NALDOVELHO
Trago a alma marcada
por trilhas, espinhos, tocaias,
madrugadas solitárias, silêncio,
lembranças de outros tempos,
sangue, suor e aguardente,
e em minhas costas, feridas,
do chicote inclemente do vento.
E a poeira... A poeira da estrada,
entranhada pra sempre em meus poros.
Trago em meus olhos a dor
de um passado vivido no exílio:
solidão, culpa, vergonha,
por feitiços conjurados, faz tempo,
e na cintura repousa uma adaga,
até hoje suja de sangue,
por batalhas travadas nas sombras,
sem sequer conhecer o inimigo.
Escolhas feitas pelo caminho,
algumas delas erradas.
Trago as mãos calejadas
pela colheita da uva e do trigo,
pelo talho nas pedras que eu trago,
esculpir, lapidar, revelar.
E mais sangue, suor e aguardente,
poemas, cantigas, imagens,
nostalgia, saudades, miragens,
inquietudes de quem procura
desfazer pela vida o mal feito,
construir um novo momento.
Trago na pele asperezas,
na fala delicadezas,
nas veias muita aguardente,
sangue viscoso, fumaça,
vestígios de ervas daninhas
semeadas impunemente, ou quase!
E o corpo hoje reclama,
mas continua teimosamente,
na dança do tempo que implora
por música, refrigério da alma
e poesia visceral e profana
que possam me alimentar.
Muito bom, Amigo!!!
ResponderExcluirAbraços portugueses!
Jorge
VISCERAL AND PROFANE
ResponderExcluirNALDOVELHO
I bring the marked soul
for tracks, thorns, ambushes,
lonely dawns, silence,
memories of other times,
blood, sweat and spirit,
and in my back, wounds,
of the severe whip of the wind.
And the dust... The dust of the road,
when it always penetrated for in my pores.
I inhale in my eyes to pain
of a past survived in the exile:
solitude, fault, shame,
for conjured charms, it does time,
and in the waist a dagger rests,
up to today it makes a mess of blood,
for battles locked in the shadows,
without even knowing the enemy.
Choices done by the way,
some of them missed.
I bring the calloused hands
for the harvest of the grape and of the wheat,
for the cutting in the stones that I bring,
to sculpt, to cut, to reveal.
And more blood, sweat and spirit,
poems, ballads, images,
nostalgia, longings, mirages,
for whose anxieties it looks
to undo for the life the evil done,
to build a new moment.
I inhale in the skin roughness,
in the speech delicacies,
in the veins great spirit,
viscous blood, smoke,
tracks of weeds
sowed with impunity, or almost!
And the body today complains,
it continues them to me obstinately,
in the dance of the time for that it pleads
for music, solace of the soul
and visceral and profane poetry
what could feed me.
Translation into English by Marlene Nass.
VISCÉRALE ET PROFANE
ResponderExcluirNALDOVELHO
Amener l'âme marquée
par les sentiers, les épines, les tocaias,
nuit solitaire, silence,
souvenirs d'antan,
sang, sueur et grappa
et sur mon dos, blessures,
le vent fouet intempéries.
Et la poussière... La poussière de la route,
toujours dans mes pores.
J'apporte à mes yeux la douleur
un passé vécu en exil :
solitude, de culpabilité, de honte,
par des sorts dont, le temps
et une dague repose à la taille,
jusqu'à aujourd'hui, le sang sale
par batailles dans l'ombre,
sans même connaître l'ennemi.
Choix de route,
certains d'entre eux sont mauvais.
Amener les mains aussis
par la récolte de blé et les raisins
par abattage dans les pierres que j'apporte,
sculpter, modeler, révéler.
Et plus sang, sueur et grappa
poèmes, chansons, images,
nostalgie, nostalgie, mirages,
préoccupations de ceux qui veulent
Annuler pour le mal de la vie fait,
construire un nouveau moment.
Porter sur la rugosité de la peau,
dans le discours, délices
dans les veines beaucoup grappa
sang visqueux, fumée,
traces de mauvaises herbes
semées en toute impunité, ou presque !
Et revendique aujourd'hui le corps,
mais toujours obstinément,
dans la danse du temps qui supplie
en musique, rafraîchissement de l'âme
et la poésie viscérale et profane
qui peut me d'alimentation.
Traduit de Français par Marlene Nass.
É isso aí, a vida sempre nos deixando marcar e às vezes bem profundas....maravilhoso poema, amigo Naldo! Parabéns! Abraços
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