segunda-feira, 8 de agosto de 2011

VISCERAL E PROFANA


   NALDOVELHO

   Trago a alma marcada
   por trilhas, espinhos, tocaias,
   madrugadas solitárias, silêncio,
   lembranças de outros tempos,
   sangue, suor e aguardente,
   e em minhas costas, feridas,
   do chicote inclemente do vento.
   E a poeira... A poeira da estrada,
   entranhada pra sempre em meus poros.

   Trago em meus olhos a dor
   de um passado vivido no exílio:
   solidão, culpa, vergonha,
   por feitiços conjurados, faz tempo,
   e na cintura repousa uma adaga,
   até hoje suja de sangue,
   por batalhas travadas nas sombras,
   sem sequer conhecer o inimigo.
   Escolhas feitas pelo caminho,
   algumas delas erradas.

   Trago as mãos calejadas
   pela colheita da uva e do trigo,
   pelo talho nas pedras que eu trago,
   esculpir, lapidar, revelar.
   E mais sangue, suor e aguardente,
   poemas, cantigas, imagens,
   nostalgia, saudades, miragens,
   inquietudes de quem procura
   desfazer pela vida o mal feito,
   construir um novo momento.

   Trago na pele asperezas,
   na fala delicadezas,
   nas veias muita aguardente,
   sangue viscoso, fumaça,
   vestígios de ervas daninhas
   semeadas impunemente, ou quase!
   E o corpo hoje reclama,
   mas continua teimosamente,
   na dança do tempo que implora
   por música, refrigério da alma
   e poesia visceral e profana
   que possam me alimentar.   

4 comentários:

  1. Muito bom, Amigo!!!

    Abraços portugueses!
    Jorge

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  2. VISCERAL AND PROFANE



    NALDOVELHO


    I bring the marked soul
    for tracks, thorns, ambushes,
    lonely dawns, silence,
    memories of other times,
    blood, sweat and spirit,
    and in my back, wounds,
    of the severe whip of the wind.
    And the dust... The dust of the road,
    when it always penetrated for in my pores.


    I inhale in my eyes to pain
    of a past survived in the exile:
    solitude, fault, shame,
    for conjured charms, it does time,
    and in the waist a dagger rests,
    up to today it makes a mess of blood,
    for battles locked in the shadows,
    without even knowing the enemy.
    Choices done by the way,
    some of them missed.


    I bring the calloused hands
    for the harvest of the grape and of the wheat,
    for the cutting in the stones that I bring,
    to sculpt, to cut, to reveal.
    And more blood, sweat and spirit,
    poems, ballads, images,
    nostalgia, longings, mirages,
    for whose anxieties it looks
    to undo for the life the evil done,
    to build a new moment.


    I inhale in the skin roughness,
    in the speech delicacies,
    in the veins great spirit,
    viscous blood, smoke,
    tracks of weeds
    sowed with impunity, or almost!
    And the body today complains,
    it continues them to me obstinately,
    in the dance of the time for that it pleads
    for music, solace of the soul
    and visceral and profane poetry
    what could feed me.

    Translation into English by Marlene Nass.

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  3. VISCÉRALE ET PROFANE


    NALDOVELHO


    Amener l'âme marquée
    par les sentiers, les épines, les tocaias,
    nuit solitaire, silence,
    souvenirs d'antan,
    sang, sueur et grappa
    et sur mon dos, blessures,
    le vent fouet intempéries.
    Et la poussière... La poussière de la route,
    toujours dans mes pores.


    J'apporte à mes yeux la douleur
    un passé vécu en exil :
    solitude, de culpabilité, de honte,
    par des sorts dont, le temps
    et une dague repose à la taille,
    jusqu'à aujourd'hui, le sang sale
    par batailles dans l'ombre,
    sans même connaître l'ennemi.
    Choix de route,
    certains d'entre eux sont mauvais.


    Amener les mains aussis
    par la récolte de blé et les raisins
    par abattage dans les pierres que j'apporte,
    sculpter, modeler, révéler.
    Et plus sang, sueur et grappa
    poèmes, chansons, images,
    nostalgie, nostalgie, mirages,
    préoccupations de ceux qui veulent
    Annuler pour le mal de la vie fait,
    construire un nouveau moment.


    Porter sur la rugosité de la peau,
    dans le discours, délices
    dans les veines beaucoup grappa
    sang visqueux, fumée,
    traces de mauvaises herbes
    semées en toute impunité, ou presque !
    Et revendique aujourd'hui le corps,
    mais toujours obstinément,
    dans la danse du temps qui supplie
    en musique, rafraîchissement de l'âme
    et la poésie viscérale et profane
    qui peut me d'alimentation.

    Traduit de Français par Marlene Nass.

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  4. É isso aí, a vida sempre nos deixando marcar e às vezes bem profundas....maravilhoso poema, amigo Naldo! Parabéns! Abraços

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