sexta-feira, 5 de agosto de 2011

VERSOS RECEOSOS, QUE PENA!

   NALDOVELHO

   Versos receosos
   de atravessar rios, pinguelas,
   ficam zanzando, coitados,
   sempre do mesmo lado,
   não buscam outra margem do rio,
   nem palavras que sejam estranhas,
   só falam do amor comportado,
   ou então, da dor do abandono.
   Tudo meloso demais!

   E repetem desesperados,
   tipo cachorro sem dono,
   a mesma cantiga faz tempo.
   Receiam cometer heresias,
   não sabem da coisa vadia,
   das coxas molhadas pelo cio,
   do veneno que circula no sangue,
   e do hálito da mulher dama.
   Não sabem da garrafa de cachaça,
   da língua a provocar arrepios,
   e do escorregar e cair do meio-fio.

   Versos bem comportados,
   sempre os mesmos coitados,
   não sabem da madrugada e do orvalho,
   do sonho e do emaranhado de fios,
   do rastilho de pólvora e pavio,
   da fogueira que queima as entranhas,
   do renascer, da redenção dos pecados,
   só que faria bem diferente,
   atravessaria outro lado do rio,
   abraçaria palavras estranhas,
   seria dessa feita um poema,
   e ainda que cometesse enganos,
   tentaria tudo outra vez. 

5 comentários:

  1. Verses Afraid,What A Pity.

    Verses afraid
    crossing rivers, whatever might come,
    are wandering, pity them,
    always on the same side,
    not looking for another bank of the River,
    or words that are strange,
    only speak of love behaved,
    or so the pain of abandonment.
    All too sweet!


    And repeat desperate,
    unowned dog type,
    the same song makes time.
    Fear commit heresy,
    don't know about the bitch thing,
    thigh wet by the cio,
    the poison that circulates in the blood,
    and the breath of woman Lady.
    Don't know about the bottle of rum,
    the tongue causing chills,
    and slip and fall out of curb.


    Well-behaved verses,
    always the same people,
    don't know of dawn and dew,
    the dream and the tangle of wires,
    the train of gunpowder and wick,
    the fire that burns the bowels,
    the rebirth, of redemption of sins,
    only that would make quite different,
    through the other side of the River,
    it would hug strange words,
    would this made a poem,
    and even if they commit mistakes,
    try everything again.

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  2. Que êxtase nos versos que se arriscam em aventuras!!!
    Melhor que a inércia de poemas engavetados são estas palavras que sussuramos suadas em làbios sempre sedentos de beijos e corpos sempre sedentos de amor!!!

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  3. O poeta da essência, do ritmo, das verdades....Salve Naldo!
    Belvedere

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  4. Maravilhoso, como sempre, nunca se sabe quais são os melhores, todos são melhores, vc é um super-poeta, bjs, Naldo!

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  5. "Versos receosos e bem comportados" perfeitamente definidos pelo Poeta: limitam a emoção!
    Parabéns, Naldo!

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