sábado, 30 de julho de 2011

NOTÍCIA DE ONTEM

   NALDOVELHO

   Pedras postas nas margens da estrada
   delimitam caminhos, definem trajetórias,
   impedem mudanças de rumos, destinos,
   empobrecem a história de cada um de nós.
   Janelas fechadas por trincos, tramelas,
   cerceiam a luz, aprisionam o ar
   saturado aqui dentro,
   sufocam a vida, desmaiadas as cores,
   penumbras, sussurros, não posso respirar!
   O limo das pedras, o mofo das coisas,
   a ausência do vento, do verbo, do tempo,
   as notícias de ontem, o café requentado,
   a comida estragada, esquecida no forno,
   um monte de roupas amontoadas num canto,
   as rosas murcharam, o telefone não toca,
   tuas cartas largadas em cima da mesa,
   poemas rascunhados, solidão e tristeza,
   a televisão ligada, já vi este filme,
   no final o mocinho morre de amor.
   A mocinha, coitada, viajou pra bem longe,
   não sabe qual é o novo endereço,
   não sabe do limo, da pedra e das rosas,
   não sabe do filme, do enredo, das sombras,
   virou pé de vento, rompeu as fronteiras,
   fiz tantas besteiras, tranquei-me num quarto,
   virei um poeta das coisas que eu choro,
   café requentado, notícia de ontem,
   coberto de limo, sou pedra, sou rosa,
   ressecadas as pétalas, ainda restam os espinhos.

6 comentários:

  1. Muito doído, amigo, mas tão real... a dor do abandono nos faz abandonar a vida durante o luto necessário.

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  2. Alma essa aflita sem saída,sendo que o único recurso e se encontrar novamente...esse o verdadeiro abandono!"abandono de nos mesmo" lindo perfeito!!

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  3. As tristeza transitam mais leves nas "Notícias de Ontem"!
    Belo!

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  4. Poema forte para quem se deixa aprisionar, é difícil, mais sabemos que cada pedra no caminho encontrada, marcando um caminho que nos aprisiona, deve ser retirada. Temos que ter coragem que muitas vezes nos é roubada pelo tempo, e abrir os trincos das janelas deixando a luz entrar, esta luz que nos levara a felicidade almejada. Parabéns pelo poema é um alerta.

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