quinta-feira, 28 de julho de 2011

FOME DE VIVER UM POUCO MAIS

   NALDOVELHO

   Tenho fome de madrugadas molhadas de orvalho,
   de luz de lua exibida a invadir meu quarto,
   de vinho tinto e rascante, e do teu doce e inebriante,
   de violinos profanos a embalar nossos sonhos,
   de animadas conversas entre azaléias e gerânios,
   de canto de pássaros em manhãs iluminadas de outono.

   Tenho fome de cheiro de terra molhada,
   dias chuvosos de inverno, de pistom em surdina,
   guitarra, contra-baixo e piano,
   e uma voz demenciada pela falta de planos
   num quarto de hotel barato,
   garrafa de vodka pra baixo da metade,
   e os dedos amarelados pelo excesso de cigarros...
   Billie Holiday até hoje canta seus desenganos!

   Tenho fome de janelas que permaneçam abertas,
   de vento macio, bisbilhoteiro e vadio,
   e ainda que os dias nos pareçam insanos,
   tem sempre um setembro, um outubro e um novembro...
   Na dança do tempo primavera se apressa
   e nos diz que é hora de recomeçar!

   Tenho fome de tardes quentes de dezembro,
   de teu cheiro tomando conta do meu quarto,
   de tua língua deliciosa peçonha,
   de sentir este agradável torpor pelas pernas,
   de teu suor entranhado em meu corpo,
   e tua voz a sussurrar: de novo!

   Tenho fome de anoitecer ao teu lado,
   de tomar um café e depois um cigarro,
   de acordes dissonantes num violão apaixonado,
   toadas que até hoje eu componho para lembrar que te amo!
   Já estou velho demais e começo a perder o rumo,
   e acabo escrevendo os mesmos poemas pra não te esquecer.

   Tenho fome de viver um pouco mais, mais uma vez!

6 comentários:

  1. A última estrofe do seu poema é comovedora, meu amigo!
    Já não fumo mas...sei como é anoitecer ao lado de alguém, tomando café, fumando um cigarro...
    ...agora envelhecer perdendo o rumo

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  2. Hunger Of Living A Little More.

    NALDOVELHO


    I hunger for wet night dew,
    Moon light appear to invades my room,
    red wine and creaky, and of thy sweet and heady,
    of violins profane to pack our dreams,
    of animated conversations between azaleas and Geraniums,
    singing birds in autumn bright mornings.


    I hunger for smell of wet earth,
    rainy days of winter, pistom stealthily,
    guitar, bass and piano,
    and a voice demented by the lack of plans
    in a cheap hotel room
    bottle of vodka down half,
    and fingers yellowish by excess cigarettes ...
    Billie Holiday sings its story until today!


    I hunger for Windows that remain open,
    soft wind, eavesdropper and idler,
    and even though the days seem insane,
    always has a SEP, an October and a November ...
    In the dance of spring time rushes
    and tells us that it's time to start over!


    I hunger for hot afternoons of December,
    of your smell taking account of my room,
    of your delicious language, venom
    feel this pleasant numbed by the legs,
    of your sweat ingrained in my body,
    and your voice to whisper: again!


    I hunger for nightfall to thy hand,
    take a coffee and after a cigarette,
    dissonant chord on a guitar in love,
    beets that until today I compose to remember I love you!
    I am already too old and beginning to lose direction,
    and just writing the same poems so as not to forget.


    I'm hungry to live a little more, once again!

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  3. TEMOS FOME DE VIVER SEMPRE MAIS!!!!

    MAGAL ROCHA.

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  4. Meu amigo, também ando saudosa...
    este tempo anda a brincar comigo....
    bjos, amigo.

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  5. Que impressionante, que maravilha, também tenho fome de tantos momentos como esses, parabéns, meu querido Naldo Velho!

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  6. Demais meu amigo....que a tua fome nunca passe e sempre se transforme em versos pra nosso deleite.....abreijos no coração

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