terça-feira, 26 de julho de 2011

DO VENTRE DA SERPENTE

   NALDOVELHO

   Um anjo esquisito pousou do meu lado,
   em versos obscenos revelou segredos,
   costurou enredos mal alinhavados,
   abriu as janelas, riu de debochado,
   acendeu incensos, fumou um cigarro,
   praguejou de um jeito bem desaforado,
   arrebentou rosários, desmanchou mandalas,
   bebeu meu absinto, ficou embriagado,
   abriu suas asas, chorou como criança,
   pediu café amargo, fumou outro cigarro
   e nas teclas do piano cantou seus desenganos.
   
   E quando um outro anjo veio em seu socorro,
   gritou feito demente, saltou pela janela,
   caiu sobre a roseira, manchou rosas de sangue,
   correu em disparada, tropeçou no meio fio,
   sujou asas de lama, não olhou pra lado algum,
   atravessou a rua, morreu atropelado,
   nasceu pra vida agora, deitado na sarjeta,
   e assim pobre coitado, não tem nada de seu.
   
   E quando amanheceu andou pela cidade,
   tomou muita aguardente, fumou um baseado,
   cheirou mil carreirinhas, roubou a sacristia,
   trocou tiros com a polícia, chorou mais uma vez.
   E quando um outro anjo veio em seu socorro,
   sangrou sangue dos tolos, manchou confessionário,
   e sem extrema unção morreu mais uma vez.
   Nasceu do outro lado, do ventre da serpente,
   não sabe o seu nome, nem sabe que morreu.

8 comentários:

  1. Gostei muito deste seu espaço e adorei o poema que acabei de ler. Parabéns!

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  2. Julgava que os anjos eram todos paz e amor...
    Pelos vistos há anjos, tal como pessoas, a viver em perfeito desatino...

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  3. Muito bonito esse seu poema, falar destes anjos esquisitos,dementes, excluídos, foi muito bem escrito neste teu versar. Parabéns amigo!
    Bjus!

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  4. SNAKE BELLY

    NALDOVELHO


    The weird Angel landed on my side,
    in obscene are, secrets revealed
    sewed shoddy plots,
    opened the Windows, laughed at mocking,
    lit incenses, smoked the cigarette,
    Rude He cursed one way and,
    rosaries, mandalas, broke loose and cups
    drank my Absinthe, drunk,
    opened its wings, cried like the child,
    bitter coffee, smoked another asked cigarette
    and the keys of the piano sang their story.

    And when another Angel came you it their rescue,
    shouted, jumped through the window done insane,
    fell on the rose-bush, spotted blood render rose-colored,
    ran into triggered, stumbled in the Middle, wire
    fouled mud, not wings looked you it nowhere,
    crossed the street, died accidentally,
    He was born you it life now, lying in the gutter,
    and only poor SAP, you have nothing of yours.

    And when she walked through the city, you have dawned
    took the lot of spirits, smoked one based,
    smelled the thousand carreirinhas, stole the sacristy
    She exchanged shots with police, wept once lives.
    And when another Angel came you it their rescue,
    bled blood have stained the confessional, fools,
    and without last rites died again.
    Was born on the other side, the womb of the serpent,
    do not know his name, nor know that died.


    Translated into English by Marlene Nass.

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  5. SERPENT VENTRE


    NALDOVELHO



    Les étranges Angel débarque de mon côté,
    dans obscènes sont, a révélé des secrets
    cousait des parcelles de mauvaise qualité,
    ouvert les fenêtres, RI de moquerie,
    encens allumées, fumé la cigarette,
    Rude il maudit d'une façon et,
    chapelets, mandalas, broke loose et tasses
    Bu mon Absinthe, ivre,
    ouvre ses ailes, pleurés comme l'enfant,
    Amer café, fumé une cigarette a demandé un autre
    et les touches du piano chantent leur histoire.


    Et quand un autre ange vint vous il leur sauvetage,
    a crié, sauté par la fenêtre faite fou,
    tomba sur la rose-colored rendu de rose-bush, maculée de sang,
    connut déclenchée, a trébuché dans le milieu, fil
    salie de boue, pas d'ailes regardé vous nulle part, il
    traversé la rue, est mort accidentellement,
    Il est né à vous il vie maintenant, gisant dans le caniveau,
    et seulement pauvre SAP, vous n'avez rien du vôtre.


    Et quand elle marchait à travers la ville, vous avez l'aube
    a le lot des esprits, une fumée basée,
    senti les mille carreirinhas, a volé la sacristie
    Elle ont échangé des coups de feu avec la police, a pleuré une fois vie.
    Et quand un autre ange vint vous il leur sauvetage,
    sang Bled ont colorés le confessionnal, fous,
    et sans les derniers rites meurt à nouveau.
    Est né de l'autre côté, le ventre du serpent,
    ne pas connaître son nom, ni savoir qui meurt.


    Traduit en Français pour Marlene Nass.

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  6. ‎"E nas teclas do piano cantou seus desenganos" Que bela trama nos apresentastesNaldo Velho e que sensibilidade hein!!! Maus um que guardarei para as histórias de meus aprendizados! Amei!

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  7. uma olhada no outro lado da vida

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  8. Gostei! Poeta, o fio da vida é tênue.

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