quarta-feira, 27 de julho de 2011

AINDA QUE EU NÃO SAIBA O PORQUÊ

   NALDOVELHO

   Exercito palavras
   que dêem vazão às coisas
   que não cabem dentro de mim
   e que por assim dizer derramam
   sem que eu saiba direito o porquê.
   Por isto sofro de cheias de um rio
   águas que não se contentam em seu leito
   e inundam caminhos, cidades,
   e espalham palavras sementes
   lançadas de um templo nascente.

   Exercito palavras
   que escancarem portas, janelas,
   portões, porteiras, fronteiras,
   que saibam desfazer feitiços
   conjurados na ausência dos ventos,
   maré vazante na areia,
   muitas sombras pelo ar.
   Por isto sofro de lua cheia,
   de veneno adocicado de sereia,
   de poesia circulando pelas veias,
   e não há quem me possa curar.

   Gosto de macerar palavras
   que busquem explorar amplitudes,
   pois a vida que eu tenho
   não cabe em meus passos,
   e a cada dia eu percebo
   que podia ser diferente,
   ainda que eu não saiba o porquê.

9 comentários:

  1. Caro amigo: sempre se superando. Grande abraço!!!!

    ResponderExcluir
  2. Esses exercitos de palavras que nos chegam... um poeta já disse que todas as palavras já foram ditas, mas como ninguém escuta, é sempre preciso dizer de novo! Talvez seja isso o não saber porque... sempre somos compelidos a dar outro grito, a dizer de outra maneira o que já foi dito para que tudo se faça compreendido.

    Forte abraço meu amigo! maravilhoso poema.

    daufen bach.

    ResponderExcluir
  3. Nem preciso comentar meu amigo , um abraço!

    ResponderExcluir
  4. Se fosse diferente, não serias o bardo das sombras nem o poeta da luz, e teus passos talvez incertos, te levariam para onde? Abreijos, guida

    ResponderExcluir
  5. "Exercito palavras que dêem vazão às coisas que não cabem dentro de mim e que por assim dizer derramam sem que eu saiba direito o porquê." Exercício de palavras, colocando cada uma em seu devido lugar, aí surge um poema ou uma poesia, que só o poeta é capaz de empregar... Coloca-se como sujeito da ação, e faz brotar uma canção... Usa verbos e predicados que sendo bem encaixados, fica com sabor de pecado... Usa tempo e lugar, faz um poema ao luar... Por isso fica sem saber o porquê... Lindo poema meu querido, Naldo Velho!

    ResponderExcluir
  6. Ainda que vc diga que não sabe...vc sabe exercitar as palavras como poucos! Sabe deixar "a poesia circulando pelas veias", sabe "explorar amplitudes" do ser, e, principalmente, sabe se superar a cada poesia! Bravos! Um belo poema, amigo Naldo Velho!!

    ResponderExcluir