domingo, 2 de outubro de 2011

ZONAS SOMBRIAS DA CIDADE (ARQUIVO)

   NALDOVELHO

   Lâmina afiada separa em pedaços
   partes corrompidas, expondo feridas,
   crianças desnutridas, sorrisos indigentes,
   de triste olhar, carentes,
   gente excluída, sociedade infanticida,
   zonas sombrias da cidade, violência à mão armada,
   soldados meliantes, fuzil engatilhado,
   já não estão mais tão distantes.

   Um tiro, uma rajada, e as pessoas na calada
   escondem-se assustadas, não querem nem saber.

   A fome, a dor, o grito, um corpo na calçada,
   um menino, uma criança, escolheu a via errada,
   a morte traz seu nome gravado numa espada.

   As minhas mãos suadas, o meu olhar cansado
   em busca de um remédio, ferida inflamada,
   é o nome dessa vida que escorre pelo esgoto
   da cidade sitiada pelo medo e o desamor.

   É só mais um pedaço exposto na calçada,
   e as pessoas apavoradas, não tinha quinze anos,
   não sabia quase nada!

   É o preço que se paga por tanta omissão.
   É o preço que se paga por olhar os excluídos
   como se não fossem nossos irmãos.

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