NALDOVELHO
Quando escuto no agitar incessante do vento
o assobio inclemente lá fora
e percebo as folhas caídas
atingidas pelo outono que aflora,
percebo também na solidão do meu quarto
a marcha lenta das horas
e peço a Deus que minhas reminiscências
se mantenham vivas, ainda que latentes,
e que as minhas lágrimas, ainda que discretas,
estejam sempre presentes.
Quando escuto, em minha memória,
o dedilhar de um piano a tanger cordas de enganos,
percebo que as notas imploram
por harmonias que soem urgentes
numa melodia que se mostre a vertente
de um amor que sobreviveu ao tempo
por mais forte que tenha sido o lamento,
pois só assim terá valido a pena
alquimizar em mim toda a dor.
E uma vez mais me aquieto e oro
pedindo a Deus que preserve
do lado esquerdo do meu peito
um coração sem pudores
e que os meus passos,
não importa em que firmamento,
trilhem sempre jornada repletas
de sonhos que se prestem ao verso,
e que eu possa preservar a crença
na vida que sempre valerá a pena ser vivida,
e que eu possa honrar o meu dom.
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