NALDOVELHO
Eu manipulo histórias
como quem constrói um sonho,
para que no fim da noite
envolto em teias
ele possa me alimentar.
E a cada amanhecer eu me
supero,
atravesso portas, corredores,
esqueço promessas, louvores,
percorro ruas povoadas de
sombras,
carregando permissividades,
desculpas, loucuras, besteiras
e deposito todas estas inconveniências
no frio mármore que existe em Seu altar.
E toda a vez que o faço eu me
absolvo,
mas ao mesmo tempo me
entristeço
na tentativa de mostrar as
pessoas
as feridas que trago latentes,
as dores que finjo
inexistentes,
pois o sol em mim agoniza mais
cedo
e eu retorno sempre cabisbaixo
àquilo que chamo de lar.
Eu manipulo sonoridades
como quem constrói um adágio,
e assim enoiteço nostálgico,
sufocado pela fumaça
de nem sei quantos cigarros,
com uma garrafa de conhaque
bem pra baixo da metade,
e uma vontade enorme de
dormir.
Eu manipulo palavras
como quem comete pecados,
e a cada poema eu transgrido,
cometo um monte de sacrilégios
na esperança de chamar Sua
atenção.
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