NALDOVELHO
Obscenas são as lágrimas
que se contêm reprimidas
num compartimento, espremidas,
e que se recusam ao pranto
por constrangimento ou vergonha
e que a cada instante se entranham,
cristalizados os desencantos
que a vida não conseguiu dissolver.
Obsceno é o sentimento abortado
pelo medo de novas feridas,
posto que as que ainda persistem
sangram não cicatrizadas
e na mudança de tempo
costumam doer,
é manter janelas fechadas
a impedir que a madrugada possa
renovar no peito a crença
num novo amanhecer.
Obsceno e recusar-se ao poema
para não se expor o dilema
que a vida ao criar obstáculos
ofertados em forma de escolhas
trouxe para o nosso viver,
é não perceber que nenhuma escolha,
não passa também de uma escolha,
a de não se permitir o porvir.
Obsceno e negar o amor que ainda existe
e transformá-lo em mágoa latente,
triturada assim entre os dentes,
até que brote dela o veneno
que certamente irá nos destruir.
Obscenas são as chaves
que não abrem portas,
e ainda dizer, pouco importa!
pois não se tem para onde ir.
beijos poeta maravilhosa poesia de um amor sufocado!!!
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