segunda-feira, 3 de outubro de 2011

QUANDO FORMOS MAIS JOVENS (PROSA POÉTICA)


NALDOVELHO

Quando formos mais jovens, talvez possamos ser mais audaciosos, tomara Deus menos tolos, certamente bem mais desbravadores pelas idas e vindas dos nossos descaminhos. Talvez possamos ser de novo inocentes, certamente menos incoerentes, provavelmente mais eloqüentes, amantes bem mais ardentes e não tenham dúvidas menos indecentes.

Quando formos mais jovens, teremos muito a experimentar.  Navegar outros mares, conhecer outros lugares, dormir com a lua ao relento... Muita coragem para gastar!  Seremos novamente fruto maduro, desses que se dão ao prazer do sabor e já não tão apressados ou impacientes possamos mitigar toda a sede, saciar toda a fome. Nossos erros já não serão tantos, nossa bagagem mais leve, nossos olhos verão mais longe e aí quem sabe possamos entender as dores que tanto afligem as pessoas. Nossos braços suportarão o mundo e nossas próprias dores serão bem mais suaves do que estas que hoje sentimos.

Quando formos...  Mas ainda não somos, e hoje, não mais suportamos o esforço, e por ainda não sermos jovens tentamos em vão deter a marcha do tempo, enclausurar de vez o relógio na esperança de encontrar um mundo, onde a vida viva um eterno segundo, na certeza de encontrar a paz.

Pena que não tenhamos percebido o engano, pena que ainda hoje não saibamos a diferença entre a vida e a eterna existência.  Pena que não tenhamos aprendido sobre a “infinitude” dos caminhos e estejamos tão presos, incompetentes que somos.  Pena que não tenhamos descoberto o amor, pelo menos não, na forma correta de amar e que estejamos vivendo em busca de compreensão, sem que em momento algum tenhamos tentado compreender. É como se desejássemos um lar sem que o tenhamos construído, é como tentar colher sem nunca termos semeado. E ainda por sermos ainda tão viciados em só escutar o som da própria voz, continuemos a exigir coerência num mundo que nós mesmos construímos incoerente e que a cada instante teimamos em desrespeitar.

Quem sabe, um dia, ainda distante, consigamos aprender com a existência? E aí, atingida a maioridade possamos novamente ser jovens, caminhar revitalizados, só que sábios, plenos de luz, dignos da estrada que nos leva em Tua direção, dignos de sermos recebidos em Tua Morada.

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