domingo, 23 de outubro de 2011

NADA MUDOU POR AQUI (ARQUIVO)


   NALDOVELHO

   Dedicados a todos aqueles que
   pereceram vítimas de atos terroristas.

   Por aqui, imagens distorcidas,
   lágrimas que escorrem corrosivas
   e um violoncelo ao fundo
   a compor tristemente o cenário. 

   Não há nada de novo nas horas,
   nada que se diga nos consola
   e o vento que varre as entranhas,
   expõe no homem toda a sua sanha.

   Tambores martirizam os ouvidos,
   despedaçam os sentidos
   e um cheiro azedo e repulsivo,
   mistura de corpos retorcidos,
   num banho de sangue
   que a cada dia se renova.

   Um Teu anjo ao fundo nos lamenta e chora. 
   Muçulmanos, cristãos e judeus,
   budistas e até empedernidos ateus,
   todos passageiros de um mesmo barco,
   todos filhos de um mesmo Deus.

   Uma jovem senhora, a tudo assiste,
   ora ao Pai, clemência para os seus filhos,
   e diz que assim lhe ensinou um outro Filho:
   - Perdoa-os Pai, eles não sabem o que fazem!

   E não há nada de novo nas horas,
   nada que se diga nos consola
   e o vento que varre esta terra atiça o fogo,
   espalha a chama, dissemina a guerra.

   Um bando de pássaros sombrios,
   embevecidos com a cena, à espera.
   - Quem sabe aqueles que socorrem,
   possam esquecer fragmentos desta gente?

   Um bando de anjos, em revoada,
   trazem mais, dilacerados corpos,
   tantas almas, tantos ais. 
   E mais obreiros se apresentam ao socorro!
   
   Não há nada de novo nas horas,
   tudo é hoje, como era antes.
   Até o fato de continuarem a Te crucificar,
   diariamente, na tentativa de apagar, em nós,
   todo o ensinamento que deixaste.
        
   Nada mudou por aqui!

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