sexta-feira, 7 de outubro de 2011

INQUIETUDE (PROSA POÉTICA)


NALDOVELHO       

Deixe que eu fique quieto num canto, é melhor assim! Já custei tanto a encontrar um lugar, um bem confortável, ao meu jeito...  Não dá mais pra ficar rompendo fronteiras, fazendo besteiras, andando de bar em bar em busca de um antídoto, um remédio para saciar minha sede.

Quanta bebedeira! Quantas paixões desconexas, romances sem eira nem beira, acordar de ressaca num quarto de um motel vagabundo e barato e nem lembrar o nome da moça que, apesar de sorridente, assaltou minha carteira e nem me trouxe prazer.

Agora, o jeito é ficar bem quietinho, não devo aborrecer meu fígado. O pâncreas então, nem pensar! Vai que eles resolvem se rebelar e armem um tremendo barraco e tudo acabe em conflito, me façam ficar amarelado, com muita dor e enjoado... Não dá mais para arriscar!

Ainda me restam os cigarros, enquanto os pulmões não reclamam e resolvem botar pra quebrar. Greve geral no pedaço! Até porque o coração já andou se rebelando, teve até pauta de reivindicações. Prometi analisar com cuidado e qualquer dia desses, me pronunciar. Só não sei o quanto eles estão dispostos a esperar. E tudo isto por causa de minha inquietude, coisa que eu não sei explicar direito!         

Melhor deixar como está!  Alguns CDs, alguns livros, muito silêncio no quarto, botar em prática um sonho: escrever poemas, canções, quem sabe uns contos eróticos, coisas que eu nunca vivi, mas fico bestando a imaginar!

Melhor mesmo é virar escritor, com sorte eu encontro o meu talento. Quem sabe ele não é o filho querido desta inquietude que eu falo? Quem sabe não está aí o remédio que vai curar esta dor esquisita que eu nem sei se tem nome, mas que teima em me assombrar?

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