domingo, 2 de outubro de 2011

VERSOS DESGOVERNADOS (ARQUIVO)

   NALDOVELHO

   Não quero a poesia aprisionada
   em rimas óbvias e evidentes
   e em métricas fieis carcereiras
   a impingir-me tantas besteiras,
   pois enclausurados os versos
   já não me sinto um poeta, e confesso:
   calo-me diante da opressão.

   Não quero estar manietado a regras
   que ditem caminhos ou fórmulas,
   pois no poeta tudo é incerto.
   Paixão que se contém oprimida
   explode em constrangimentos,
   deixa um vazio por dentro
   e cala a inspiração.

   Prefiro os contrastes da vida
   em linhas desgovernadas
   que exponham no corpo as feridas
   dos desencontros, das horas perdidas,
   da nostalgia de um entardecer solitário,
   ou de uma madrugada plena de insônia.
   Dissonância que brota tamanha,
   descompassos do meu coração.

   Prefiro versos de chuva,
   ou de um pistom demenciado em surdina,
   de caminhadas solitárias e sem pressa
   por trilhas em desalinho,
   pois em algum lugar desta estrada
   eu sei, vai ter dor de partida
   e vão brotar versos urgentes
   por sentimentos que se mostrem ardidos,
   pois insólita é esta nossa viagem
   na poesia que transcende o poema,
   em palavras que se mostrem dispostas
   a seguir caminhos opostos
   e de falares bem controversos;
   já que nada que eu faça vale a pena,
   sem o atritar desmedido
   da busca pela compreensão.

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