quarta-feira, 22 de agosto de 2018

LÁGRIMA FUGITIVA


    NALDOVELHO

    Uma lágrima fugitiva
    escapuliu nem sei como
    e numa folha de papel
    um poema absorveu.

    Especial este poema,
    com cheiro e gosto de saudade,
    nostalgia que vez por outra me invade.

    Especial esta lágrima
    que um dia teve nome e endereço,
    mas já faz tanto tempo,
    tanto, que o poeta mente
    e diz que esqueceu.

    E assim foi, uma lágrima fugitiva
    que num cantinho da folha de papel
    um poema de amor absorveu.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O POEMA É OUTRA COISA


    NALDOVELHO


    Poesia é a possibilidade do sonho,
    é manhã ensolarada de outono,
    janelas e portas abertas
    e a passarada toda em festa;
    mas às vezes é nublada e fria,
    e ainda assim um novo dia,
    com café quente e encorpado,
    vontade de fumar um cigarro,
    inventar caminhos de ternura
    onde antes só existia a clausura.

    Poesia é saudade, gastura, nostalgia,
    candeeiro aceso em noite sombria,
    necessidade de viajar mundo afora,
    é pacto feito entre o ontem e o agora,
    licença para se cometer sacrilégio,
    remédio que cura a amargura e o tédio,
    conhaque envelhecido, acalanto,
    magia que dissolve o meu pranto,
    desaguar de águas claras, cachoeira,
    que se faz em rio de romper fronteiras...

    O poema não!
    O poema é outra coisa:
    é mostrar minhas asas de viajar por dentro,
    é a coragem de materializar sentimentos,
    é desconstruir o silêncio a que me obrigo,
    é a necessidade de me comunicar contigo,
    é a ponte que me permite o abraço
    e o carinho a construir novos laços,
    é minha bênção, minha verdade, minha oração,
    é o jeito que eu tenho de acabar com a solidão.




quinta-feira, 9 de agosto de 2018

PRISIONEIRO DA MINHA SOLIDÃO


    NALDOVELHO

    Você nos disse que um dia
    estaríamos crescidos
    e que não mais escutaríamos
    vozes em nossos ouvidos,
    que não existiriam
    feridas em carne viva,
    tão pouco inquietudes
    a perturbar nossas vidas;
    mas o tempo passou,
    e nós ainda estamos perdidos,
    sem saber se o rumo escolhido
    vai nos levar a algum lugar,
    ou se nossas raízes irão frutificar.

    Você nos disse que um dia
    o amor iria nos preencher,
    que ele abriria portas
    e que se caminhássemos de mãos dadas
    seria difícil alguém nos separar,
    e por isso todas as promessas,
    ternuras, loucuras, coisas sagradas,
    próprias de quem ousou sonhar;
    mas o tempo passou
    e quando eu olho ao redor
    você já não mais está,
    e a nossa música continua a tocar,
    e a nostalgia insiste em me assombrar.

    Você me disse que um dia
    eu aprenderia a perceber,
    e que quando isto acontecesse
    a dor que eu sinto não iria mais doer;
    mas o tempo passou
    e eu só percebo vestígios
    da minha imensidão,
    e das paredes que me cercam,
    palavras num idioma estranho;
    algumas eu já consigo compreender,
    a maioria não!
    Acho que por isto que eu ainda sou
    prisioneiro da minha solidão.