NALDOVELHO
Sou feito tempestade
que açoita o mar inclemente,
que varre pra longe a calmaria
e que desentranha a poesia
que trazes guardada, latente.
Sou clarão de lua cheia
que seduz no mar a sereia,
que aprisiona sem acorrentar
e te faz jorrar em vertentes
águas de cheiros tão quentes.
Sou pensamento suave
com gosto de nostalgia,
sou magia dos tempos
forjada na força dos ventos,
feitiço que não pode ser desfeito
e que abusadamente transforma
no ventre de um ser a semente.
Sou chama que invade e acalma,
sou rio sem margem e distante,
sou água cristalina da fonte,
sou quem mata a tua sede
e continua sempre a jorrar.
Sou madrugada lavada de insônia,
orvalho que denuncia a lágrima,
sou estrela tardia e matutina,
sou a revelação de um dia,
sou sonho que alimenta a alma,
e que mostra ao poeta que chora
que ainda há tempo para amar.
Sou tua inquietude, teu descompasso,
tua rebeldia, tua busca pela compreensão.
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