segunda-feira, 17 de outubro de 2011

MANIFESTO (LUZ E SOMBRAS)

   NALDOVELHO

   Vivo do cultivo de palavras inquietas,
   palavras chuvosas de início de outono,
   que sejam viscerais e indecentemente ardidas,
   que rebeladas reclamem
   por poesia lhes conserve a chama,
   que roguem por janelas e portas
   que se mantenham sempre abertas
   e por verdades aparentemente insanas.

   Vivo com o peito afrontado
   por harmonias dissonantes, estranhas,
   música misturada aos versos,
   magia sedutora e profana,
   que incomoda e arranha as entranhas,
   coisa mestiça que se fez sem vergonha
   de chorar cantigas que curem feridas.
 
   Vivo de transformar palavras em pétalas,
   mas às vezes perco o caminho
   e as transformo em espinhos,
   e quando o faço me embaraço em roseiras;
   sangue, suor, lágrimas, tropeços,
   e às vezes faço tantas besteiras
   que levo um tempo pra conseguir me libertar.

   Vivo de cultivar palavras manifesto,
   heresias entrelaçadas aos versos,
   sonhos colhidos nos escombros,
   caminhos que só eu penso e proponho,
   que me permitem sobreviver nos abismos
   e tirar de lá o alimento que me restaura o juízo.

   Vivo de cultivar palavras fazedeiras,
   dessas que revelam as pessoas
   o caminho que precisam trilhar.

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