NALDOVELHO
Vivo do cultivo de palavras inquietas,
palavras chuvosas de início de outono,
que sejam viscerais e indecentemente ardidas,
que rebeladas reclamem
por poesia lhes conserve a chama,
que roguem por janelas e portas
que se mantenham sempre abertas
e por verdades aparentemente insanas.
Vivo com o peito afrontado
por harmonias dissonantes, estranhas,
música misturada aos versos,
magia sedutora e profana,
que incomoda e arranha as entranhas,
coisa mestiça que se fez sem vergonha
de chorar cantigas que curem feridas.
Vivo de transformar palavras em pétalas,
mas às vezes perco o caminho
e as transformo em espinhos,
e quando o faço me embaraço em roseiras;
sangue, suor, lágrimas, tropeços,
e às vezes faço tantas besteiras
que levo um tempo pra conseguir me libertar.
Vivo de cultivar palavras manifesto,
heresias entrelaçadas aos versos,
sonhos colhidos nos escombros,
caminhos que só eu penso e proponho,
que me permitem sobreviver nos abismos
e tirar de lá o alimento que me restaura o juízo.
Vivo de cultivar palavras fazedeiras,
dessas que revelam as pessoas
o caminho que precisam trilhar.
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