terça-feira, 4 de outubro de 2011

DEDICADO A VOCÊ (ARQUIVO)

   NALDOVELHO

   Como ter a pretensão de ser a metade
   de alguém que se mostra assim tão inteira,
   pois se ao mesmo tempo que te apresentas
   tal qual brisa suave, tipo fresca aragem,
   surges também tempestade a modificar a paisagem,
   só para desentranhar de mim boas sementes,
   coisas preciosas, segredos, presentes.

   Se de repente eu me quedo em silêncio,
   tipo atormentada calmaria,
   surges então pé de vento a me levar noite adentro
   através de madrugadas molhadas
   e a me deixar beber em teu colo
   todo o orvalho que a noite foi capaz de te trazer.

   Como ter a pretensão de ser a metade
   de um foco de luz tão intenso
   que ilumina e cura as feridas,
   e que descortina novas sendas, caminhos
   que eu nunca fui capaz de perceber.

   Se és chama branda e suave
   que hoje me aquece do frio,
   se és a graça que eu preciso
   para restaurar no poeta a alegria de viver,
   como eu poderia pretender?
   Não... Não há como ser a tua metade,
   no máximo uma fração menor anexada ao teu ser.

   Seria então apenas um amante,
   que fosse, porém, sem algemas,
   para poder descobrir em ti a ternura,
   para poder enfim chorar sem vergonhas,
   não pela dor ou desencantos tamanhos, 
   mas por pura sensibilidade à beleza
   que eu sei, um dia eu vou te merecer.

   E aí verias, num meu sorriso a verdade
   de um homem harmonizado,
   e por opção, a ti aprisionado,
   pois bendita és tu mulher,
   que me atravessou o caminho,
   só para ensinar umas coisinhas,
   essenciais para que eu pudesse crescer.

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