sexta-feira, 21 de outubro de 2011

MANHÃS (ARQUIVO)

   NALDOVELHO

   Manhã sonolenta, visguenta.
   Acordar atrasado, a insônia é um estrago
   que perturba o poeta que nunca se aquieta,
   que rola na cama povoada de enganos,
   travesseiro suado de dor e abandono.

   Manhã tão nublada, de chuva miúda,
   café feito às pressas, cigarro amargo,
   janelas abertas, ruas desertas,
   o rádio ligado, noticiário das sete,
   não traz a notícia que eu quero escutar.

   Manhã tão estranha, molhada de inverno,
   recebo uma carta postada nos longes,
   um folheto, um prospecto, um postal, um bilhete:
   palavras tão poucas que dão conta que a chama
   permanece acesa dentro de nós.

   Manhãs de agosto, já fiz minhas malas,
   não demoro em viagem, vou ali, volto já,
   a tempo de ver primavera chegando,
   manhãs de outubro, povoadas de sonhos,
   de coisas tão plenas, poesia no ar

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