NALDOVELHO
Manhã sonolenta, visguenta.
Acordar atrasado, a insônia é um estrago
que perturba o poeta que nunca se aquieta,
que rola na cama povoada de enganos,
travesseiro suado de dor e abandono.
Manhã tão nublada, de chuva miúda,
café feito às pressas, cigarro amargo,
janelas abertas, ruas desertas,
o rádio ligado, noticiário das sete,
não traz a notícia que eu quero escutar.
Manhã tão estranha, molhada de inverno,
recebo uma carta postada nos longes,
um folheto, um prospecto, um postal, um bilhete:
palavras tão poucas que dão conta que a chama
permanece acesa dentro de nós.
Manhãs de agosto, já fiz minhas malas,
não demoro em viagem, vou ali, volto já,
a tempo de ver primavera chegando,
manhãs de outubro, povoadas de sonhos,
de coisas tão plenas, poesia no ar
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