NALDOVELHO
As folhas destoam, pálidas, sem vida,
palavras caladas permanecem reprimidas,
não há nada de novo nas horas
que sem consolo já não agüentam
os dias que se arrastam sonolentos.
Vida, à-toa, repleta de constrangimentos!
O sangue, que corre em meu corpo,
tropeça viscoso por artérias e veias,
o ar penetra em meus pulmões, saturado de fumaça,
e o cigarro, que eu trago: cada vez mais amargo.
Não há nada de novo nos horas,
nada que se diga me consola
e as manchetes dos jornais
repetem as notícias de sempre:
uma baleia encalhada na praia agoniza e morre;
o trânsito engarrafado, desespera, dilacera;
um navio a deriva que não encontrou o seu cais,
vaga sem timoneiro, partiu faz tempo,
não voltou nunca mais;
na estação um trem que não parte,
dormentes sem trilhos, sem trilhas, caminhos.
Todos os dias à mesma hora,
a noite chega e implora,
quer lua cheia de volta,
quer esquinas repletas de gente,
quer crianças brincando nas ruas,
mas as ruas continuam incertas,
povoadas de sombras a aterrorizar nossa gente.
Em suas casas, meu povo se esconde,
adormece e não descansa,
vive esperando notícias,
malfadadas dores urgentes.
A sirene de um carro avisa:
mais um que ousou e partiu;
ousou andar pelas ruas,
ousou não resistir ao assalto,
se preocupar com seus filhos...
O gatilho apressado viu reação e puniu!
As pessoas silenciam e choram,
por desespero levantam bandeiras,
alertam que de oportunistas, já estão cheias,
que a classe política é um engodo,
omissos, coniventes e certamente cúmplices
dos crimes perpetrados.
Quanto tempo, mais, poderemos resistir?
Quantos dos nossos filhos,
prematuramente, vão ter que partir?
Não há nada de novo nas horas,
nada que se diga me consola.
O meu Santo Padroeiro está refém, é prisioneiro!
Libertem o meu São Sebastião,
aquele do Rio de Janeiro!
Ao fundo a imagem do Cristo a tudo assiste e diz:
perdoa-os Pai, eles não sabem o que fazem!