segunda-feira, 3 de outubro de 2011

POETA É BICHO DANADO (ARQUIVO)

   NALDOVELHO

   Saber do gosto das coisas apesar da solidão,
   perceber os dois lados da estrada,
   ter a pré-ciência do que o caminho possa revelar,
   submeter vontades, vencer paixões,
   e isto sem delas abrir mão!
   
   Erguer templos onde se possa louvar a palavra,
   fazer dela um sagrado relicário, ser seu guardião,
   e ainda carregar uma dor que atravessa os tempos,
   que lapida almas, que nos faz melhores a cada amanhecer,
   pois na verdade, é ela quem nos revela.

   Poeta é bicho danado, coisa sem explicação,
   capaz de ver o que ninguém mais vê,
   sabedor de palavras arruaceiras espinhosas de umbigo,
   e com o poder de transformá-las
   em palavras "fazedeiras" que amansem corações.

   Poeta é bicho abençoado por um estranho feitiço,
   na realidade, a mais bela das maldições.
   Parece incoerência? É não!
   Poeta é anjo caído que se alimenta de inquietação!

   E a cada amanhecer eu renasço,
   e a cada poema eu me refaço,
   como quem se reconstrói a cada passo 
   por pura teimosia ou obsessão.

   Portanto, não se assuste,
   se amanhã eu pegar minhas tralhas e seguir estrada,
   pois sou eterno nos caminhos que eu mesmo faço,
   semente de sonho que um dia vai florescer compreensão

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