quarta-feira, 5 de outubro de 2011

ACERTO DE CONTAS (ARQUIVO)

   NALDOVELHO

   No chão um baralho suado
   faz a ronda e diz adeus.
   Um sete e uma dama,
   dedos ligeiros, confessos
   e a banca mais uma vez se impõe.

   Num gesto rápido
   um golpe certeiro desfaz a trama.
   Fino corte que a navalha reclama,
   expõe a carne, secciona,
   lado direito do pescoço,
   jugular e sangue, muito sangue...

   Do outro lado, na outra quina,
   esquina da encruzilhada, que sina!
   Um homem a tudo assiste e sorri.
   Terno de linho e sapatos brancos,
   Chapéu Panamá, camisa de seda,
   tudo respingado de sangue.

   Não foi ele o autor!
   Mas certamente o inspirou.

   Logo-logo, muita serragem, 
   folhas de jornal, camuflagem, 
   quatro velas acesas...
   Tudo muito bem encomendado!
   Como faz jus um malandro
   que a sanha da navalha levou.

   Amanhece e quem passa
   desconhece o motivo ou o autor
   e sussurrando entre dentes
   diz que bem provavelmente,
   foi mais um acerto de contas
   que ninguém testemunhou.

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