sábado, 22 de outubro de 2011

IRACEMA (ARQUIVO)

    NALDOVELHO

   Uma história de vida,
   muito mais que uma lenda. 
   Noite de lua cheia
   que derramada por inteira
   numa louvação a natureza
   iluminava o lugar.

   Água de cheiro no corpo,
   Iracema colhia estrelas
   para enfeitar seus cabelos
   que brilhavam qual luz de luar.

   Flores do campo, delicados jasmins,
   a roupagem mais linda
   de um perfumado jardim.
   Iracema, a bela princesa
   purificava o ambiente,
   muito incenso ali presente,
   canela, cravo e alecrim.

   Foi assim que de repente,
   como por encanto,
   Iracema sorriu satisfeita
   por conta de um bravo guerreiro
   que ao se achegar
   se lançou aos seus pés.

   O enfeitiçado homenageava
   os muitos encantos da Iara,
   e dizia ter vindo dos longes,
   só para ver a princesa
   mais bonita do lugar.

   Trazia em seus olhos a certeza
   e em suas mãos uma braçada de flores,
   e junto, um colar de esmeraldas
   que um poeta chamado Xangô,
   mandara abençoar.

   Diz a lenda que, por pura magia,
   do colo da índia formosa
   um olho d’água brotou inquieto
   e envolveu o nobre guerreiro
   que naquela fonte matou sua sede,
   purificou o seu corpo
   e por paixão, assim, incontida,
   se perpetuou qual semente
   naquele colo nascente.

   Depois cansado da longa jornada,
   dormiu o sono dos justos
   e enquanto dormia
   se transformou em pedra,
   guardião daquela fonte
   e eternamente o companheiro,
   da mais linda entre as princesas,
   filha de Mamãe Oxum!

   E o olho d’água se eternizou nascente
   e de nascente, transbordou cachoeira
   que depois se fez em rio,
   de águas claras e envolventes
   que em suas muitas vertentes,
   semeou por aquela toda aquela terra,
   muitas vidas, outras nascentes,
   filhos que até hoje campeiam,
   guardiões dos jardins de Oxalá.

   E assim me contou esta lenda,
   um velho caboclo mateiro
   que sentado em cima de uma pedra
   dizia ser o poeta,
   o senhor daquelas terras,
   certamente um grande guerreiro,
   que o vento, as matas e o tempo,
   por amor à natureza,
   resolveram perpetuar.

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