Todos os dias você
acorda, levanta e se espanta. Já é quase hora e você se apressa, vai ao
banheiro depressa, lava a cara e os dentes, escova os cabelos e se veste.
Depois vai até a cozinha, requenta um café e ele ferve! Mesmo assim você se
serve, queimando goela abaixo e mastiga um pedaço de pão, olha para o relógio,
se assusta e sai, tropeçando nas pernas. Novamente atrasado! Compra as notícias
de ontem, entra na fila do ônibus e espera. Só que o relógio não. Merda, seu
time perdeu outra vez!
Quando o ônibus chega
é aquele atropelo, de jornal no sufoco, tem alguém debaixo do seu braço e os
seus pés nem tocam o chão. Você vai pendurado, amassado e no freio de arrumação
seu jornal caí... Abaixar, nem pensar!
Você vai praguejando
num trânsito escangalhado, até chegar numa esquina quando você é cuspido direto
na calçada, em frente a um banco que por um desses milagres que só Deus
explica, é onde você trabalha.
Você entra depressa,
coloca a gravata, procura o livro de ponto e ele já não esta mais no quadro!
Algum babaca diligente levou para mesa do gerente e tome esculhambação!
O jeito é pedir
desculpas, tentar uma explicação. É sempre a mesma história e esta já não cola!
Toda segunda é a mesma merda, melhor aceitar o desconto, sentar o rabo na
cadeira e começar a trabalhar.
O tempo correndo e
você nem sente e quando percebe já é hora de ir para uma pensão barata comer
uma comida qualquer. Depois voltar e de novo em frente a um espelho, lavar a
cara e os dentes... Depois, para o mesmo trabalho e novamente você nem sente,
pois já são sete horas, o banco fechado, o puto do gerente foi embora, faz
tempo! Você se levanta, a bunda dolorida, entrega o movimento, já foi tudo
processado, já foi tudo transmitido e você todo fodido, vai para fila do
ônibus. Novamente o atropelo e outra vez engarrafado!
Depois de uma hora e
pancada você é de novo cuspido, só que agora dentro de um bar. Toma uma cachaça
para lavar a merda do dia, toma uma cerveja para urinar ele depois. Não acha
que é o bastante, repete a dose e pronto! Já está meio bêbado, meio torto e o
ombro doendo pra caralho, a coluna queimando empenada, você vai se arrastando para
casa e encontra a mulher no portão.
A comida posta na
mesa, Dona Maria de cara amarrada! Você arrisca uma saliência, ainda sobrou tesão!
Ela sente o bafo de cana e arma um tremendo barraco. Porra de
mulher! Parece até meu patrão!
Puto da vida, você se
levanta, quase nem toca na comida e vai assistir televisão. Não tem nada que
preste, e o que presta não passa, e dá um sono danado, você vai dormir enjoado,
xingando as suas escolhas e até a falta de escolha.
Queria poder
entender, achar um caminho, saída! Quem sabe mudar de emprego? Quem sabe trocar
de mulher? Quem sabe mulher nenhuma pegando no seu pé! Acha melhor virar
vagabundo, desocupado ou coisa assim. De repente entrar para a política,
cometer um assalto! Assalto não! Melhor virar vereador, é mais seguro. Dá para
ganhar uns trocados, ser chamado de doutor, sem correr o risco de um dia sair
de casa algemado por conta de algum negócio escuso que você malandramente
arrumou.
E a patroa continua
emburrada, e a coluna continua doendo... Trepar nem pensar! Melhor mesmo é
dormir, amanhã é um novo dia e enquanto ele não vem, quem sabe Deus não se toca
e lhe tira do castigo. Acho que o nome é indulto! Pode ser também anistia,
coisa que é aplicada em bandido. Não! Anistia é em banido político, desses que
vivem no exílio.
Quem sabe você não acerta na Sena, um dia qualquer acontece! É só manter a esperança e não entregar os pontos. Um dia qualquer, qualquer dia, custa nada acreditar!
Quem sabe você não acerta na Sena, um dia qualquer acontece! É só manter a esperança e não entregar os pontos. Um dia qualquer, qualquer dia, custa nada acreditar!
Retrato da maioria dos brasileiros, amigo. Triste assim, e no final tem o consolo da aposentadoria que não paga nem os remédios pra amenizar os problemas que esta vidinha dá. Bjus
ResponderExcluirAposentar-se é ir para os seus aposentos, seu quarto, sua sala, sua varanda...é o "após"! E depois disso reflete-se tragicomicamente: era tão bom antigamente...
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