Tem dias que eu acordo limão
galego, com a cara feia de dar medo e fico rosnando para as pessoas que passam
desavisadas pelo meu raio de ação. Mais pareço fio desencapado, dou choque pra
todo o lado e apesar de ficar calado, fuzilo com os olhos o atrevido que
insistir em incomodar minha solidão.
São dias de desterro, de
recolhimento compulsório e de descrença no meu futuro. Costumo ficar no escuro,
deitado em meu leito, sentindo uma coisa estranha, uma ardência danada no
peito, sem ânimo, apetite ou desejo... Melhor que houvesse um botão para
desligar de mim a existência, cair no vazio, no nada, pois até o pensamento
constrange-me o coração.
Mas, como por encanto, ato de
Deus ou coisa assim, surge em meu corpo uma energia, um calor e um desassossego
que faz com que eu entorne o meu pranto, em lágrimas secas, poemas a
materializar problemas, coisas que eu nem percebia e que viviam entranhadas,
estranhas dentro de mim. Dores, chagas, lamentos, situações não resolvidas que
ao serem expostas feridas, deixam de afligir-me a alma.
É então que tudo se acalma e eu
me percebo num sorriso irônico e abusado, pois não foi dessa feita que a vida
deixou de valer a pena.
E aí eu me ponho a orar,
agradecido por ser um poeta e, assim sendo, conseguir dissolver sentimentos cristalizados
e por ser capaz de, com os meus versos, construir em mim mesmo um ser cada vez
mais inteiro que ao ter a coragem dos loucos e a inquietude de poucos, consegue
através da palavra, submergir da loucura de viver em busca da compreensão.
NALDOVELHO
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