sábado, 5 de janeiro de 2013

QUEBRANDO AS CORRENTES (ARQUIVO)


    NALDOVELHO

   Não quero mais saber desta cidade
   que deixou de sonhar e nem sente saudade,
   não quero mais o cheiro do asfalto,
   em cada esquina um susto, um assalto,
   e por mais que eu tenha tomado cuidado,
   só me restaram poemas para serem roubados.

   Não quero mais saber destas algemas,
   não quero viver mais neste dilema,
   já nem sei quantos anos de trabalhos forçados,
   escrevendo poemas para ficar nos guardados,
   fazendo canções e ficando calado,
   ficando cansado e dormindo acordado.

   Preciso molhar meu corpo no orvalho,
   abraçar teu corpo, ser teu agasalho,
   andar pelas ruas sem ser alvejado,
   viver bem tranquilo, andar desarmado,
   escrever um romance, poder ser amado,
   criar os meus filhos, viver libertado.

   Eu quero poder falar do futuro,
   acender uma luz, clarear o escuro,
   resgatar no meu rosto um sorriso criança,
   falar ao inimigo que é possível sermos amigos,
   quebrar as correntes, sair do castigo.

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