sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

QUALQUER DIA DESSES (ARQUIVO)


     NALDOVELHO

     Qualquer dia desses vai amanhecer nublado,
     vai ter chuva miúda, tipo garoa,
     nada que assuste ou chegue a incomodar,
     feito lágrima que chora num esforço danado
     e derrama escondida pra não denunciar.

     Vai ter vento frio, janela entreaberta,
     cheiro de terra molhada,
     alguma coisa estranha no ar.
     Manhã de março, outono nublado,
     pois apesar dos enganos,
     há sempre um caminho a trilhar.

     Nesse dia fique em casa sozinha,
     leia muitos poemas, inclusive os meus.
     Ao entardecer se despeça do dia,
     pois neste momento certamente,
     muitas outras despedidas
     estarão acontecendo em algum outro lugar.
     
     E quando a noite estiver plena,
     se quiser, pode sussurrar meu nome,
     ou então, abrir de vez a janela,
     para que a ausência sentida
     pela irremediável partida,
     possa entrar sorrateira
     qual essência de alfazema,
     pois este será sempre o meu cheiro,
     minha marca, meu sinal,
     alguma coisa muito particular.

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