NALDOVELHO
Qualquer dia
desses vai amanhecer nublado,
vai ter chuva
miúda, tipo garoa,
nada que
assuste ou chegue a incomodar,
feito lágrima
que chora num esforço danado
e derrama
escondida pra não denunciar.
Vai ter vento
frio, janela entreaberta,
cheiro de
terra molhada,
alguma coisa
estranha no ar.
Manhã de março,
outono nublado,
pois apesar
dos enganos,
há sempre um
caminho a trilhar.
Nesse dia
fique em casa sozinha,
leia muitos
poemas, inclusive os meus.
Ao entardecer se
despeça do dia,
pois neste
momento certamente,
muitas outras
despedidas
estarão
acontecendo em algum outro lugar.
E quando a noite estiver plena,
se quiser,
pode sussurrar meu nome,
ou então, abrir
de vez a janela,
para que a
ausência sentida
pela
irremediável partida,
possa entrar
sorrateira
qual essência
de alfazema,
pois este será
sempre o meu cheiro,
minha marca,
meu sinal,
alguma coisa muito
particular.
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