segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O TEU CHEIRO (ARQUIVO)


     NALDOVELHO

    Mandei construir muralhas
    de pedras, bem altas,
    que fossem inexpugnáveis,
    e lá abriguei meu silêncio,
    protegido de toda a tortura
    que teu amor pudesse trazer.

    E nesse exílio e desterro,
    assim sitiado em meus medos,
    cultivei um jardim de segredos,
    com cães a vigiar meu sono,
    com trancas, janelas, tramelas,
    lençóis tão brancos e macios,
    aquecido do açoite do frio,
    e longe da insônia insistente
    que as noites costumam trazer.

    Extraí de um veio água fresca
    para que flores pudessem crescer,
    únicas, especiais e em essência,
    por toda a ternura e carinho
    que eu fosse capaz de colher.

    Só não consegui impedir o teu cheiro,
    que trazido pela ação dos ventos,
    invadisse sorrateiramente o meu quarto,
    trazendo por maldade a saudade,
    pondo fim à solidão e ao exílio
    que ingenuamente eu me impus.

    E o coração do poeta
    acostumado a chorar poemas
    que falem do amor que ele sonha,
    apesar da dor que ele sente,
    sorri!

Um comentário:

  1. Meu Deus, que monstro de poeta é vc, Naldo Velho, no melhor sentido, é claro. Tremendo, impressionante, impactante, tocou-me lá no fundo, no mais fundo do coração, parabéns, poeta amigo!

    ResponderExcluir