sábado, 22 de dezembro de 2012

VERSOS CONFUSOS (ARQUIVO)


     NALDOVELHO

    Por trilhas, atalhos, estradas que eu tramo,
    estreitas passagens, geladas, desertas,
    contorcidas raízes, emaranhadas, sem vida,
    pedras soltas, cascalhos, feridas,
    sombras que tecem a tocaia que eu temo.

    Suspeitas revelam, assombros, entranhas,
    guardados que eu teimo, que incomodam e arranham.
    Sou em mim mesmo o acerto e o engano, 
    um pote lacrado, de gemas, tesouros
    e uma serpente sibila enroscada num trono.   

    Na beira do abismo tem limo, tem perdas,
    tem quedas, espinhos, essência da dor
    de ausência e abandono, já nem sei onde estou!
    Uma roseira espinhenta a enfeitar-me o caminho,
    pesadelos que eu trago, doloridos comigo.

    Águas que brotam, nascentes nas pedras
    e um braço de rio me leva daqui,
    o ancoradouro nos longes, do outro lado da vida.
    Navegar, adernar e depois naufragar,
    o ciclo completo da terra e do mar.

    Na dança dos quatro elementos que cremos,
    versos soltos, confusos, tão plenos.
    O fogo consome, a água redime,
    a pedra acalma, aquece e abriga
    e o ar nos permeia e a tudo equilibra.

    Queria encontrar num oráculo a chave
    da porta que eu tenho dentro de mim.
    Quem sabe as visões que eu sonho e proponho,
    possam revelar-me o princípio e o fim?

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