sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

QUAIS LÁGRIMAS (ARQUIVO)


    NALDOVELHO

   Já nem sei quais lágrimas
   misturadas a tantas outras
   foram as derramadas por você.
   Já nem sei se isto importa,
   pois ao fechar-se a porta,
   percebi quão estranha é a dor
   que cada vez mais se entranha
   e deixa de ter um nome ou um rosto,
   que passa a ser apenas um desgosto
   cristalizado dentro de mim.

   Já nem sei quais palavras
   melhor definiriam sentimentos,
   se as doces por contentamentos
   cultivadas na urgência da paixão,
   ou as amargas e ainda não digeridas,
   derramadas na veemência da despedida
   e banhadas pela incompreensão.
   Só sei que em mim restaram alguns frutos,
   é bem verdade, de cica ainda incontida,
   por verdes que ainda estão,
   pois só com o tempo e amadurecida a polpa,
   poderei compreender o que são.

   Já nem sei se a poesia permanecerá presente,
   ou se irá se transformar em coisa à toa.
   Só sei que tristeza é ter que ir embora
   e levar os desenganos da vida
   por caminhos, solitárias escolhas
   e que hoje já não há mais espaço,
   e insistir no romance é embaraço,
   pois as linhas que hoje eu vejo estendidas
   precisam permanecer como guias
   na caminhada em direção ao amanhã.

   Portanto, que seja bendito o pranto,
   pelas muitas perdas assumidas,
   pela distância e pela dor consentida,
   pois ao coração resta ser forte
   e buscar novas portas, saídas,
   pois enquanto houver lágrimas soltas
   vai sobreviver o encanto
   de quem acredita que o dia
   vai amanhecer todos os dias
   e não importa o que se pense ou se diga,
   haverá em nós sempre a possibilidade
   de uma nova paixão.

Um comentário:

  1. Meu Deus, que fantástico, Naldo Velho, maravilhoso, pura emoção da perda de uma paixão, a dor da separação, que nos corrói a alma mas que, enquanto nos marca, vai lapidando nosso coração que se cansa, mas depois se relança em nova esperança! Inesquecível poema, sou uma bem-aventurada poetisa por conhecer vc e sua arte, bjs!

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