O meu destino eu tive que traçar sozinho, e eu te
juro, foi muito dura a jornada. Acho até que por conta disso o poeta acabou por
ser forjado na mesma forja do guerreiro e os dois: o poeta e o guerreiro trazem
em sua bagagem muitas marcas, cicatrizes, testemunhas irrefutáveis do quanto a
solidão do caminho pode moldar um ser.
De paraíso, entendo não! Faz tempo trago a pele
curtida pela aridez do deserto, pelo açoite dos ventos e pelas forças das águas,
que no lapidar da pedra bruta, fizeram de mim o homem que hoje eu sou.
Nunca me pus à margem, posto que a desconheço, navegante
em desalinho no caos que eu mesmo estabeleço, sempre me fiz um peregrino, um
anjo, um caído em desterro.
Pudores, recatos, cuidados? Não os tenho! Já te
disse: sou um espírito guerreiro que acha que o seu maior pecado é teimar em
aprender com o erro. Assim fui ensinado, assim eu consigo crescer.
Não luto contra o diabo, converto-o! Pois aprendi
que ele mora dentro de mim, sabe tudo o que eu sei e também o que eu ainda não
sei. Procuro com muito cuidado alquimizar o pecado, minhas energias e emoções,
transformar em certo o errado, transmutando-o para a trilha do bem.
Minhas lágrimas são sempre suaves, mas não cultivo
em mim a amargura, pois acho que por tantas batalhas, escolhas, abismos,
perigos; acabei por abrir no horizonte uma porta, uma estreita passagem, de
onde eu recebo aquilo que mereço, por buscar no meu desassossego a verdade por
inteira, a luz e a compreensão.
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