Face marcada pela dança do tempo, pele
queimada pelo sol e pelo vento, já não tão ereto, mãos grossas calejadas, olhar
de quem por muito navegou, muito viu e nunca se assombrou.
Era assim aquele homem, bem próximo
aos sessenta, na beira do mar a tecer suas teias, sua rede, numa grande e
interminável mandala.
Cigarro de palha no canto da boca,
quase sempre apagado, vez por outra um gole de aguardente, saliva grossa, já
quase sem dentes, velho camafeu onde a vida gravou tantas histórias, até por
isso, um bom prosador!
Fala macia, maneirosa, sempre
generosa, a nos mostrar velhas cantigas sobre a força dos ventos, o rumo das
águas, os encantos do mar.
Uma vez nos contou sobre uma sereia,
uma linda mulher que morava num rochedo bem próximo à arrebentação. Disse que
quando a viu, se aproximou, se enfeitiçou com o seu canto e por paixão se
escravizou. Porém por obediência ao mar ela o libertou.
Quando contava esta história, seus
olhos ficavam marejados de lágrimas. Velho camafeu sentia saudade!
O seu nome era Alceu, Alceu que um
dia, nem faz muito tempo, num fim de tarde chuvoso, com mar revolto de açoite,
numa mudança dos ventos, virou uma lembrança querida, água do mar carregou.
E daquele dia em diante, sempre na lua
minguante, um canto de dor e paixão, lá pras bandas do velho rochedo, grita bem alto o seu nome: Camafeu, Camafeu que o mar malvado levou... Volta pra mim
meu amor!
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