NALDOVELHO
Era uma vez um quarto e dentro dele, na cabeceira
da cama, uma mesa. Em cima da mesa uma jarra e um copo, cheios d’água.
E assim viviam eles, tranquilos e integrados, como
se tivessem sido feitos uns para o outro: na jarra e no copo, água!
Foi num dia qualquer de maio, alguém desastrado
passava e ao esbarrar na mesa os derrubou.
O copo e a jarra pelo chão aos cacos, e a água no
tapete, derramada!
Era uma vez a poeira, que pelas frestas da janela
invadiu o quarto e do tapete encharcado como uma intrusa se apropriou.
E a água, antes concubina do copo e da jarra,
agora no tapete, assim, entranhada, à poeira se amasiou.
Dessa estranha promiscuidade surgiu um filho
bastardo que alguém por pura ironia, de mofo batizou.
E foi nesse cenário tristonho que a água, antes
cristalina, refrescante e faceira, em umidade se transformou.
E junto ao tapete, à poeira, ao mofo, à jarra e ao
copo, hoje em cacos espalhados pelo quarto, foi o que restou!
Vez por outra passo por lá desconsolado, pois o
que encontro é um cenário tristonho, de cama ainda desfeita, lençóis sujos pelo
chão espalhados, travesseiro empoeirado, num canto jogado, um horror!
Certa feita tão descuidado, em dia de chuva,
apressado, com os pés sujos de lama, mais tristeza ao quarto eu levei.
Acho que quase um ano se passou, quando num dia
qualquer de setembro, a porta se abriu e no quarto, alguém diferente entrou.
Olhou para o cenário e chorou!
Abriu a janela depressa para o sol poder tomar
conta, varreu a poeira e os cacos, tirou do tapete o mofo, e nos livrou da lama
no quarto. Trocou travesseiros e lençóis, depois se aconchegou em paz no
silêncio que agora reinava e feliz, realizada, deitou e descansou.
Foi num dia qualquer de novembro, ao certo, já não
me lembro! Curioso fui ver como estava o quarto e dentro dele não mais
encontrei a solidão.
Encontrei cama arrumada e na cabeceira da cama uma
mesa, e em cima da mesa uma jarra e um copo, e dentro deles: água limpa, fresca
e cristalina.
Olhei pela janela e lá fora, perdidos: a lama e a
poeira.
Dizem que o mofo, coitado! Pelo sol ferido de
morte, não resistiu e morreu.
Seus sapatos? Favor deixe na porta, é para manter
limpo o ambiente, preservar puro o meu interior.
Era uma vez um quarto e nele, hoje, habita o
meu amor.
Naldo, querido amigo, só você mesmo pra criar cena tão ímpar de um movimento único... a agua cristalina, jarra e copo enfim, juntada a poeira, fez nascer o mofo... adorei isso... beijos de VC...
ResponderExcluir