sábado, 15 de dezembro de 2012

O VERBO CERTO (PROSA POÉTICA)



NALDOVELHO

Cada coisa ocupa um determinado lugar no espaço. Só que o tempo e o movimento discordam, e o que hoje está aqui, amanhã certamente num outro lugar, depois, nem sei por onde estará.

E o amor, sentimento danado de espaçoso, que como diz o poeta, é infinito, mas só enquanto dure? Míngua atrofiado e é removido para um lugar seguro, tipo pequena gaveta no departamento das lembranças, e fica por lá, feito cicatriz que na mudança de tempo arde e incomoda, até que venha outro amor e anestesie a danada da saudade e cure no coração do poeta a dor da distância e da perda de quem tantas marcas deixou. E ainda que caiba um poema, esse não mais incomodará.

Até a vida, algumas plenas, significativas, outras efêmeras, muitas desapercebidas e aparentemente sem valor... (como se pudesse haver vida que não fosse preciosa!) Pois é: o tempo, delas também se encarregará! Mesmo a vida do poeta, pois não é certa a perenidade de sua obra, ou mesmo de suas dores, nada permanecerá!

Gosto de pensar na infinitude. Costumo dizer que a existência nos preservará; assunto para espiritualistas, ou coisa assim. Outras vidas, novas vivências... Mas, certamente em algum outro lugar, abençoados pelo esquecimento, terreno fértil para novas sementes, novas culturas, outras histórias... Ainda assim, nada como está, permanecerá!  

Nada fica! O tempo, que a tudo transforma, tem a sabedoria da Criação e o Verbo certo é recomeçar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário