NALDO VELHO
Tem dias que eu acordo meio amuado,
pensativo e acabrunhado, achando que a minha poesia se perdeu por desvios,
trilhou atalhos errados na ilusão de que ali adiante existia um rio que iria
matar minha sede de falar as coisas que eu penso, e outras que tanto quero e
que por ser um poeta eu sonho, e que por conta de tantas amarras eu nunca vivi.
Tem dias que as palavras brotam
vazias, ocas de significados e aí surgem lá das funduras, uma agonia e gastura
danadas, de achar que não mais vale a pena ficar debruçado em versos, a tentar
desencravar meus cacos e a tirar das entranhas os espinhos, pois quem sabe a
dor que me habita pudesse abrir um novo caminho e mostrar pra toda essa gente
que a poesia apesar de um dom, é também uma maldição.
Nesses dias eu fico calado, a observar
a palavra estranha, expelida impensada e afiada, em diálogos vazios, e
entrecortados, que circulam com força tamanha sem a preocupação de buscar-se a
verdade, o entendimento e a compreensão. E cada vez mais eu me calo, fico
tristonho e arredio, fazendo força para ignorar meus versos, pois certamente o
que eu penso nada irá acrescentar.
Só que de repente me surge um anjo,
cujo nome eu mantenho em segredo, a mostrar que esse dia é o contraste pelo
qual o verbo transita quando em busca da razão se conflita e faz aguçar a nossa
percepção. Ainda bem que viestes em meus sonhos, a mostrar que a sensibilidade
impera, nos braços da mulher amada, no colo quente da amante e no beijo molhado
do orgasmo, pois o amor que hoje eu tenho é fonte preciosa e tamanha, a provar
que a poesia é sagrada e que dela eu não posso abrir mão.
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