PRESA ENTRE OS DENTES (LUZ E SOMBRAS)

    NALDOVELHO

   Luzes reclamam, portas abertas,

   caminhos estranhos, redescobertas.
   Se és fonte de um rio que brota macio,

   assim eu me afogo em tuas cobertas!

   Luzes atalhos, tocaias, loucuras,

   sou pedra, sou limo, espera e tortura,

   viagem incerta, mudança de planos,

   sou braço de um rio, caminho profano.

   Luzes da noite cegam meus olhos,

   mergulho em teu colo, me queimo, me molho.

   És como aguardente, saliva e peçonha,

   ternura e magia, suor, poesia.

   E a lua exclama e mostra em teu corpo

   o orvalho que brota e atiça a chama.

   Tuas pernas amarras, teus braços correntes...

   Sou fera abatida, presa fácil entre os dentes.