quarta-feira, 26 de novembro de 2014

TAPEÇARIA INACABADA

    NALDOVELHO

    Fios embaraçados na trama,
    tapeçaria inacabada,
    tecido esgarçado,
    folhas de papel rasgadas,
    livros e discos
    espalhados pelo quarto.

    Do parapeito da janela
    um anjo entristecido
    assiste a minha demolição.

    Manhã cedo, novembro,
    dia chuvoso, estranho
    e eu perdido em meus sonhos,
    e sem mais nem menos,
    pedaços de mim mesmo
    espalhados pelo chão.

    Meu braço direito
    num canto do quarto,
    o esquerdo perto da janela
    tenta alcançar a cortina, em vão!
    Minhas pernas já nem sei onde estão
    e os meus olhos choram
    presos a minha imensidão.

    Assim de repente eu amanheço
    e me vejo fio de esperança
    trançado no tecido solidão.
    Tapeçaria inacabada
    misturada aos escombros.

    E o anjo entristecido 
    tenta me dizer alguma coisa,
    mas eu não falo a língua dos anjos,
    nem poesia eu sei mais!

    Hoje eu só tenho palavras ocas,
    vazias e loucas,
    perdidas em meio à demolição.

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