segunda-feira, 22 de setembro de 2014

VELHA SENHORA


NALDOVELHO

E existia aquela velha senhora que pelas ruas do meu bairro, gostava de distribuir sorrisos e se alguém se aproximasse e permitisse, distribuía abraços também.

Era uma mulher cheia de alegria, mas com o corpo lapidado pelas agruras desta vida e trazia cicatrizes que ninguém via, mas que existiam, acho que por dentro.

O povo diz que era uma grande rezadeira, eu só sei que ela pouco falava e quando o fazia era numa língua estranha que ninguém entendia.  Tão pouco sabíamos o seu nome, e eu acho que nem ela sabia, pois quando perguntada, ela simplesmente sorria.

Nem faz muito tempo, numa noite escura de outono, relâmpagos, muita chuva e ventania, num repente ela desapareceu e no casarão abandonado onde dormia, nem seus panos velhos encontraram, e no cômodo que ocupava só uma imagem de Santa Barbara ao lado de uma estranha marca no chão, que mais parecia ser feita a fogo, e um forte e delicioso cheiro de arruda a tomar conta do lugar.

Hoje, eu fico aqui pensando na falta que ela nos faz, pois pelas ruas ninguém mais sorri; abraço então, nunca mais eu vi, e há pouco, pela manhã, na velha casa abandonada, um monte de homens e máquinas trabalhavam na demolição e removiam todo o entulho, escombro ou não!

Disseram que vão construir por ali um asilo, um desses lugares onde se guardam idosos, gente que quase não sorri e só fica esperando a sua hora de partir.

Coisa esquisita anda acontecendo pelas ruas do meu bairro, o povo anda meio sem graça, só falta de repente descobrir que eu também não vivo mais por aqui.

   

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