segunda-feira, 8 de setembro de 2014

E POR FALAR EM PEDRA

    NALDOVELHO

    E por falar em pedras:
    eu tenho muitas espalhadas sobre a mesa,
    algumas, pequeninas, redondinhas,
    mareadas pela força das águas,
    colhidas sem nenhuma pressa
    numa praia enluarada e deserta,
    lembranças que eu tenho de um tempo
    quando caminhávamos lado a lado...
    tempos de maré cheia,
    pés descalços na areia
    e num cigarro compartilhado,
    a cumplicidade dos amantes.
    Pedras lapidadas, cristalinas,
    e delas minam águas,
    saudades que eu tenho de nós dois!
    Outras, de afiadas arestas,
    se olhar bem, vestígios de sangue,
    retiradas das entranhas,
    sementes que cresceram impunemente
    por lágrimas choradas pra dentro,
    hoje em cima da mesa para serem lapidadas
    pela força de um poema
    que abra uma janela para o depois.
    

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