quarta-feira, 22 de outubro de 2014

OUTUBRO

    NALDOVELHO

    Chove dentro do meu quarto.
    Lá fora: ardência, incoerência, estiagem.
    Aqui dentro: rio de incertezas,
    águas turvas de outubro,
    corredeiras dentro de mim.
    Minha alma se debate inutilmente,
    desafia as pedras, meus medos,
    recusa as margens, segredos,
    atravessa desfiladeiros e vales
    e deságua numa noite sem fim.

    Agora chove dentro de mim.
    Lá fora: anjos caídos choram,
    se arrependem de terem debochado da aurora,
    sentem frio, fome, sede e imploram,
    pedem que os libertem da maldição.
    Aqui dentro: o poeta se cala,
    entristecido com a loucura dessa gente
    que aprisionou águas e destruiu nascentes.
    Olha pela janela e se sente um estranho,
    e em silêncio, mergulha em sua solidão.


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