sábado, 25 de outubro de 2014

NÃO QUEIRAS BEBER DAS MINHAS LÁGRIMAS

   NALDOVELHO

   Por que tantas paredes,
   tantas portas, tantos cadeados,
   tantas trancas, tantas tramelas?
   Por que a verdade escondida
   nessa sala estranha e vulgar?
   Por que tantos espinhos
   a impedir nosso acesso?

   Se em teus olhos
   eu não vejo a ternura,
   por que insistes em caminhar
   pela noite escura?
   Por que a palavra
   atirada como farpa?
   Por que tantos abismos?

   Tu sabes quantos de nós
   moram do outro lado da rua?
   Sabes quantos passam fome?
   E quais são os nossos nomes?

   Por que finges nos dar a mão,
   quando na realidade
   estão fechadas as portas
   do teu coração?

   Não queiras beber das minhas lágrimas,
   elas não vão matar tua sede,
   tão pouco vão amenizar tua culpa
   e te trazer o perdão.

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