domingo, 5 de outubro de 2014

MEMÓRIAS

    NALDOVELHO

    Na sala daquele casarão
    a morte joga xadrez
    com uma sorridente criança
    e irritada chega à conclusão
    que perdeu mais uma vez.

    Na outra extremidade da sala
    um palhaço chora sua desventura,
    pois loucamente apaixonado,
    foi abandonado pela bailarina
    que fugiu com um doutor.

    Numa cadeira de balanço,
    perto da janela, uma velha senhora,
    compadecida com aquela história,
    tece numa tapeçaria
    rosas vermelhas de amor e dor.

    Na porta de entrada
    um velho pecador
    em súplica e desespero,
    confessa envergonhado
    que pecou mais uma vez.

    Na varanda daquela casa
    um andarilho de passagem,
    pede um pouco de água,
    abrigo por uma noite
    e um pedaço de pão.

    O dono da casa
    que a tudo observa,
    tem esperança
    que um dia a criança
    assuma o nosso porvir.

    E eu, aqui de castigo,
    a tudo observo, faz tempo,
    e anoto essas histórias,
    num livro intitulado memórias,
    só não sei ainda o porquê!

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