sábado, 4 de outubro de 2014

O SILÊNCIO E A CALMARIA

    NALDOVELHO

    O silêncio das águas mortas
    a escorrer pelas ruas
    como quem acompanha uma procissão.
    Sexta-feira santa
    nas escadarias da igreja,
    na esmola ofertada,
    na sacristia fechada,
    num pedaço de pão
    deixado aos pés de Maria,
    na necessidade da ressurreição.

    O silêncio das coisas tortas,
    dos lençóis a cobrir Teu corpo,
    das velas acesas no altar
    e as chamas incendeiam o tempo,
    nem uma simples brisa se atreve
    a conspurcar o sagrado
    da certeza de um pecado
    cometido faz tempo,
    e que até hoje dilacera
    o meu coração.

    O silêncio da Tua carne,
    o Teu sangue coagulado,
    um tonel de vinho derramado,
    e o milagre da madrugada
    no sol que ilumina as calçadas,
    na luz que revela Tuas chagas,
    Tua dor, meus medos, meus segredos...
    E as lágrimas de Maria
    ainda hoje banham o Teu corpo
    estendido no chão.

    O silêncio e a calmaria,
    que lentamente nos consome
    pela eternidade do perdão.



  

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