quarta-feira, 10 de junho de 2015

TEVE UM TEMPO DE PASSARINHO

    NALDOVELHO

    Teve um tempo
    que eu tinha asas de imensidão,
    voava como quem voa pro infinito
    e eu era um pássaro bonito,
    mas tão desaforado,
    uma faísca na escuridão.
    E tinha plumagem dourada,
    bico de abrir estradas,
    olhos de derramar paixão.

    Teve um tempo
    que Deus passarinho dizia
    pra eu voar de flor em flor,
    pegar delas todo o mel,
    depois atravessar as dobras do tempo,
    levar pro mundo a ternura,
    remédio pras dores
    que afligiam os corações.

    Teve um tempo
    que o meu canto era singelo,
    angelitude que te invadia o quarto,
    e eu nem sabia da palavra
    que alimenta os teus versos,
    mas sabia do amor que eu tinha,
    poesia que transcende o poema
    e eu pousado em tua janela,
    encharcado de tanta emoção.

    Teve um tempo que eu tinha asas,
    hoje sou apenas um prisioneiro
    envolto nas teias do tempo,
    e o meu canto é triste e solitário,
    pés feridos de trilhar este chão.   

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