segunda-feira, 1 de junho de 2015

COMEÇAR TUDO OUTRA VEZ

    NALDOVELHO

    O arrepio, o precipício, o sobressalto,
    a interminável sede, a angustia da fome,
    a inevitável volta ao passado,
    fazer de conta que está tudo acabado,
    abrir a janela, fazer um escândalo,
    expulsar fantasmas do quarto,
    começar tudo outra vez.

    A vontade de tomar um conhaque,
    quem sabe fumar um cigarro,
    me apaixonar novamente por você,
    abrir a porta, sair mundo afora,
    acordar no meio da noite
    em alguma cidade estranha,
    começar tudo outra vez.

    Dentro em pouco amanhece
    e o sol desconhece minhas razões,
    manhã cedo, mês de maio, outono,
    o corre-corre das pessoas, o abandono,
    andar pelas ruas dessa cidade perversa,
    a necessidade de uma mudança de planos,
    começar tudo outra vez.

    O arrepio, o precipício, o sobressalto,
    escrever mais um poema,
    pois a esperança explode em meu rosto,
    teima em alimentar minhas horas,
    com um olhar, um sorriso, um abraço,
    e no inevitável pulsar da paixão,
    começar tudo outra vez.

    A angustiante perda da razão,
    acreditar na possibilidade do sonho,
    aprender a perceber o dia que passa,
    sua beleza, em todos os seus detalhes,
    e as águas do mar indecisas na areia,
    e um vento gelado invade a tarde,
    começar tudo outra vez.

    No final daquela praia tem um rochedo,
    dizem que por lá mora uma sereia,
    que ela gosta de devorar memórias,
    e que ela pode nos absolver dos pecados...
    
    O arrepio, o precipício, o sobressalto,
    a interminável trajetória de um tolo,
    obrigado a recomeçar mais uma vez.

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