segunda-feira, 1 de junho de 2015

OS SINOS DA IGREJA

    NALDOVELHO

    Os sinos da igreja despertam o poeta,
    já são seis horas, tarde noite chuvosa,
    e as pessoas não dão conta do estrago,
    não percebem o sofrimento dos seus,
    tão pouco as esquisitices de Deus,
    não conseguem se libertar das teias,
    aprisionadas a sua incompreensão.

    Os sinos atiçam as palavras,
    mas o poema se contorce em minha boca,
    presa fácil, esmagada entre os dentes,
    versos triturados, pastosos,
    não conseguem fluir significados,
    não se prestam às minhas verdades,
    palavras aprisionadas no breu.  

    Os sinos sacodem a noite,
    já são seis horas nesta cidade nublada,
    e no rádio do carro a Ave Maria
    atropela meu coração ateu,
    e eu me lembro do Júlio Louzada,
    da Vó Miudinha e de suas novenas,
    e a sua voz explode em meus ouvidos:
    - meu neto, você precisa acreditar em Deus!



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