segunda-feira, 21 de abril de 2014

NOTURNO - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

 NALDOVELHO

Foi sem o menor aviso!  De repente a porta se abriu suave e lentamente e ela então invadiu-me o quarto com ares de quem sabia o que buscar, e principalmente onde encontrar. Eu nada disse! Também nem podia, as palavras soterradas diante daquela imagem tão bela e ao mesmo tempo tão estranha. Um forte pressentimento de que algo estaria por acontecer, algo que eu ainda não entendia, mas que francamente, não tinha a menor vontade de evitar.

Perfume, discreto, delicioso e envolvente, feito embriaguez disfarçada, e inclementemente desejada... Foi assim que aconteceu! Algumas palavras, doces palavras, um olhar penetrante, e uma vez mais, eu nada conseguia dizer, nada me ocorria e o silêncio era naquele instante a atitude mais sensata diante daquela atmosfera de mistério e prazer.

Percebi num relance que ela já se punha descalça a caminhar de um lado para o outro do quarto, como se estivesse a me estudar e a premeditar seus próximos passos. Fechou mal fechada a cortina, apagou as luzes, deixou apenas e tão somente ligado, um pequeno abajur de sedutora penumbra, que junto com a luz da lua que penetrava pela cortina entreaberta, me permitiam a visão daquele momento raro, precioso e sagrado. 

Uma vez mais em silêncio, só me restou continuar a observar, a saborear e a me embriagar até não mais poder. Movimentos provocantes num jogo de luz e sombra a enaltecer seu corpo e uma música suave a brotar das paredes, do teto, do chão, de todo o quarto. Metais em surdina, bem temperados, num blues impiedoso e visceralmente mal intencionado.

Primeiro a alcinha de um vestido meio transparente, generosamente decotado; depois a outra... E meio assim como por querer ela se aproximou. Olhar ainda mais envolvente, o bico do seio esquerdo a se mostrar contundente e a desafiar-me o silêncio. O outro seio, meio assim escondido, porém não menos ousado, a impedir a queda do vestido, mas que num ligeiro contorcer de ombros revelou sua intenção.

Ela dançava em minha frente, e eu cada vez mais excitado, com minhas mãos trêmulas busquei-lhe o corpo. Já não mais existiam roupas, apenas uma pequena peça, última fronteira, última barreira... Meu corpo arrepiado ao perceber aqueles pelos deliciosamente anunciados. Minhas mãos incontidas, lentamente em suas coxas, em seu colo. Um conveniente lacinho que se desfez com carinho e revelou por inteiro o caminho encantado e ansiosamente desejado. Beijei-lhe os lábios, ambos, com muito amor e cuidado, beijos longos e molhados.

Percorri com a língua, todas as dobras e lados, rocei com os dentes o bico do seio esquerdo, salientemente excitado.  Já não mais reconhecia as minhas pernas, embaralhadas com aquelas outras pernas, a me sentir assim como uma muralha, que fora, facilmente ultrapassada... Derrotado eu tombei, entregue a tamanha sanha.         
           
Mantive apenas os olhos entreabertos, não poderia perder tal cena, ver aquela mulher a cavalgar abusada em meu corpo, até chegarmos a um longo e demorado orgasmo, que deixou fortemente impregnado em meus poros aquele cheiro e em minha pele a sensação do roçar de corpos, quentes, molhados, melados, coisa que eu nunca mais vou esquecer.

Ainda me lembro bem!  Lá fora a noite ia alta, abri as cortinas e percebi que a lua havia se posto, tal qual sentinela em frente a minha janela. Olhei de novo para a cama para saborear mais uma vez aquela imagem, a espera de encontrá-la adormecida, abraçada em meus lençóis...

Para o meu sofrimento e espanto, lá não havia mais ninguém. Não havia mulher alguma em meu quarto. Eu estava só, irremediavelmente só! Eu e minha loucura, eu e o meu desejo de que aquele ser, misto de feitiço e miragem, voltasse e dissesse: te amo! Nada, não havia nada, nada aconteceu. Foi tudo um pesadelo, ou um sonho, sei lá!

Talvez o nome dela seja insônia, talvez seja solidão, quem sabe ela se chame saudade de alguém que eu nem sei se conheço ou se um dia vou conhecer.


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