segunda-feira, 21 de abril de 2014

NOS DIAS DE HOJE - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


NALDOVELHO

Um homem carrega suas glórias por ruas sombrias e lamacentas, habituado a deturpar a história, deita e adormece abraçado a um triste fim que ignora. Um outro chora em seu quarto pelos outonos desperdiçados, faz tempo, pelos caminhos desprezados por dentro e na esperança de ser libertado, se ajoelha, se martiriza e ora.

Uma criança padece faminta na escadaria de acesso a um templo e a sociedade a lhe oferecer como esmola a fumaça de um cachimbo nojento e o excremento numa lata de cola. Outra criança aprisionada implora por um carinho, uma palavra, um alento, olha para as ruas da janela do seu quarto, não sabe das dores que existem lá fora, não sabe que o mundo embrutece e devora.

Uma mulher escreve uma carta que diz do amor de outrora, do desejo que lhe arde por dentro e das farpas espetadas em seu corpo... Não consegue superar a perda e o desgosto. Outra mulher amamenta seu filho, busca um alimento no quintal de sua casa, diz que Deus escreveu seu futuro numa árvore que um homem malvado pela lenha derrubou e lamenta a pouca poesia que lhe restou.

Um religioso vocifera nervoso, promete o inferno a quem pense diferente e que seu deus lhe deu o dom de curar toda a dor, usa a oração como se fosse uma algema e desconhece o poder da palavra amor. Outro negocia e absolve pecados, diz que aqueles que quiserem o milagre terão que pagar um dízimo a cada hora, mercador que é das benesses divinas edifica templos mal cheirosos, latrinas.

E o povo coitado, envolto nessas teias, não consegue ver a armadilha, o engodo e cada dia que passa mais se aprisiona e sofre, não sabe que o amor abre portas, caminhos, não consegue escrever o seu próprio destino.

Abraçado a sua dor Jesus chora e implora: perdoa-os Pai eles não sabem o que fazem!

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