Penso que hora dessas
vou ter que descer deste trem.
Saltar solitariamente na primeira plataforma,
caminhar pelas de outra cidade,
colher amanheceres diversos,
cultivar entardeceres iluminados
de flores de inebriante perfume
e anoitecer na solidão de um quarto,
morrer docemente, dormir em paz.
Penso que hora dessas
vou ter que traçar novos planos,
estabelecer novos rumos,
libertar o espírito que agoniza em mim,
fazer da sabedoria meu princípio e o meu fim,
sentar próximo a minha janela,
colocar as todas as coisas em dia
sem ter que me preocupar em escrever poemas,
que digam o que eu achei de cada uma delas.
Penso que hora dessas
vou ter que parar de ir daqui pra ali,
dali para o acolá e depois voltar
desiludido para o mesmo lugar,
me libertar do círculo vicioso
que teima em me sufocar,
escrever sobre uma nova realidade,
uma que sequer um dia eu ousei sonhar.
Penso que dia desses
vou ter que desembarcar deste trem,
certamente numa outra cidade,
bem depois de todos os mares
que até hoje eu consegui navegar.
Penso que hora dessas
eu vou ter que renascer.
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