NALDOVELHO
As palavras que eu tenho
às vezes hibernam e emudecem,
para aquele que olha atentamente,
parece que estão fazendo uma prece;
nestes momentos, coitados,
passarinhos entram na muda e nem piam,
o tempo caminha em silêncio e se entristece,
o ar fica pesado e nada que eu faça ou tente,
desperta em mim a magia,
do novo, do inusitado, da poesia.
Só que independente da minha vontade,
o poema se cansa deste marasmo,
se contorce dentro das minhas entranhas,
e dá uma inquietude danada,
o estomago fica enjoado,
o coração bate descompassado,
e eu me acabo num choro convulsivo,
palavras liquefeitas e ardidas,
paridas espremidas em versos,
que logo florescem e me acalmam,
a ponto de me fazer crer
que elas realmente estavam em prece,
estiagem precisa da alma,
que vive em busca de caminhos
próprios de quem quer crescer.
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